quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Crítica – Ranpo Kitan



Mistérios sempre foram muito bem aceitos, independente da sua forma de veiculação. Os livros de Arthur Conan Doyle, os filmes de Hitchcock e Ridley Scott, as peças de Jean Genet e muitos autores que fazem e fizeram sucesso no meio do suspense e do mistério.
Um desses autores é Edogawa Rampo (japonês, já falecido) que inspirou diversas pessoas com suas histórias a ponto de não ser incomum surgirem animações em sua homenagem; como por exemplo Genji Monogatari Sennenki e Un-Go, adaptações de suas obras literárias mais consagradas. Inclusive a CLAMP, em seu mangá xXxHolic, cita o autor no momento em que a personagem Yuuko traz a borboleta como seu símbolo e a frase "O mundo dos vivos é um sonho. O sonho noturno é a realidade" do livro Os sonhos da borboleta.
O anime Ranpo Kintan é uma homenagem aos 50 anos de falecimento do Edogawa; é também uma união da vida de Edogawa e de suas histórias, nas quais alguns dos casos tem relação com a ilha Mie (local de nascimento do autor), seu amor pelas borboletas e seu fetiche pelo ero-grotesco. Todos esses detalhes são evidenciados em personagens minuciosamente caracterizados e criados com base no estudo de suas obras. Ranpo Kintan traz, de certa forma, uma história inédita sobre o mundo do autor, no qual o mundo acinzentado de Kobayashi começa a se tornar mais vivo quando um grande incidente o envolve logo no primeiro episódio.
Qualquer sinopse seria um grande spoiler sobre a real profundidade desse anime, mas o desenrolar da história não tem de fato a intenção de fazer sentindo ou parecer bonito. Edogawa era um amante do grotesco e do erótico e seu amor foi passado perfeitamente nessa animação, não era incomum a presença de um menino, Kobayashi, que utilizava a sua aparência afeminada para passar despercebido ou para seduzir pessoas próximas em seus livros; assim como a clara referência ao seu livro The Human Chair, logo no primeiro episódio do anime.
Ao mostrar que todo monstro é humano, Ranpo Kintan desconecta a ideia de que existem pessoas boas e ruins nesse mundo. Com uma forma diferente de ver o mundo, Kobayashi deverá mostrar que a vida é muito mais do que nascer, crescer e morrer.
O trabalho de Hikaru Sakurai e Makoto Ueza foi exepcional, pois a adaptação dos principais contos do Edogawa Rampo foi praticamente perfeita, apesar de umas pequenas distorções em algumas características físicas e na idade de alguns personagens, a premissa e a essência de cada um foi mantida. Esses dois escritores fizeram, provavelmente, um estudo bastante minucioso da bizarrice maravilhosa que é Edogawa.
Assim como o Satoki Lida, diretor de som, ao escolher a trilha sonora mais gostosa de se ouvir. Especialmente pela abertura Speed to Masatsu e o encerramento Mikazuki que são de arrepiar até o último fio de cabelo. Seiji Kishi, diretor geral, também teve uma grande representatividade nessa produção, afinal, sem ele, a união de cada detalhe não seria possível.

Infelizmente não é possível se compreender a história a fundo sem conhecer o autor a fundo, muitos telespectadores vão se sentir confusos e achar a história incompleta ou sem sentindo. Talvez esse seja um bom motivo para não se ver bons comentários sobre o anime. Vê-lo como apenas uma produção voltada para o entretenimento é uma visão errônea, esta é uma homenagem que pretende apresentar a cultura que o autor trouxe ao Japão Pós Segunda Guerra Mundial e este é o motivo pelo qual Ranpo Kintan é um anime que sempre estará no top de qualquer lista de indicação de animes sobre mistério.

Nota 9.1
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