Mistérios sempre foram muito bem aceitos, independente da
sua forma de veiculação. Os livros de Arthur Conan Doyle, os filmes de Hitchcock
e Ridley Scott, as peças de Jean Genet e muitos autores que fazem e fizeram
sucesso no meio do suspense e do mistério.
Um desses autores é Edogawa Rampo (japonês, já falecido)
que inspirou diversas pessoas com suas histórias a ponto de não ser incomum
surgirem animações em sua homenagem; como por exemplo Genji Monogatari Sennenki
e Un-Go, adaptações de suas obras literárias mais consagradas. Inclusive a
CLAMP, em seu mangá xXxHolic, cita o autor no momento em que a personagem Yuuko
traz a borboleta como seu símbolo e a frase "O mundo dos vivos é um sonho.
O sonho noturno é a realidade" do livro Os sonhos da borboleta.
O anime Ranpo Kintan é uma homenagem aos 50 anos de
falecimento do Edogawa; é também uma união da vida de Edogawa e de suas histórias,
nas quais alguns dos casos tem relação com a ilha Mie (local de nascimento do
autor), seu amor pelas borboletas e seu fetiche pelo ero-grotesco. Todos esses
detalhes são evidenciados em personagens minuciosamente caracterizados e
criados com base no estudo de suas obras. Ranpo Kintan traz, de certa forma,
uma história inédita sobre o mundo do autor, no qual o mundo acinzentado de
Kobayashi começa a se tornar mais vivo quando um grande incidente o envolve
logo no primeiro episódio.
Qualquer sinopse seria um grande spoiler sobre a real
profundidade desse anime, mas o desenrolar da história não tem de fato a
intenção de fazer sentindo ou parecer bonito. Edogawa era um amante do grotesco
e do erótico e seu amor foi passado perfeitamente nessa animação, não era
incomum a presença de um menino, Kobayashi, que utilizava a sua aparência
afeminada para passar despercebido ou para seduzir pessoas próximas em seus
livros; assim como a clara referência ao seu livro The Human Chair, logo no
primeiro episódio do anime.
Ao mostrar que todo monstro é humano, Ranpo Kintan
desconecta a ideia de que existem pessoas boas e ruins nesse mundo. Com uma forma
diferente de ver o mundo, Kobayashi deverá mostrar que a vida é muito mais do
que nascer, crescer e morrer.
O trabalho de Hikaru Sakurai e Makoto Ueza foi exepcional,
pois a adaptação dos principais contos do Edogawa Rampo foi praticamente perfeita,
apesar de umas pequenas distorções em algumas características físicas e na
idade de alguns personagens, a premissa e a essência de cada um foi mantida. Esses
dois escritores fizeram, provavelmente, um estudo bastante minucioso da
bizarrice maravilhosa que é Edogawa.
Assim como o Satoki Lida, diretor de som, ao escolher a
trilha sonora mais gostosa de se ouvir. Especialmente pela abertura Speed to
Masatsu e o encerramento Mikazuki que são de arrepiar até o último fio de cabelo.
Seiji Kishi, diretor geral, também teve uma grande representatividade nessa
produção, afinal, sem ele, a união de cada detalhe não seria possível.
Infelizmente não é possível se compreender a história a
fundo sem conhecer o autor a fundo, muitos telespectadores vão se sentir
confusos e achar a história incompleta ou sem sentindo. Talvez esse seja um bom
motivo para não se ver bons comentários sobre o anime. Vê-lo como apenas uma
produção voltada para o entretenimento é uma visão errônea, esta é uma homenagem
que pretende apresentar a cultura que o autor trouxe ao Japão Pós Segunda
Guerra Mundial e este é o motivo pelo qual Ranpo Kintan é um anime que sempre
estará no top de qualquer lista de indicação de animes sobre mistério.
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