Medo uma sensação que nos faz fazer coisas por instinto, ou
até mesmo demonstrar um lado que as pessoas não conheçam. Mas e quando esse
medo é utilizado como desculpa para fazer o mal? Sob esse conceito que paira Not
Fade Away ao criar uma atmosfera até agora desconhecida. A de desconforto, pois
quando os zumbis tornam-se de fato um segundo plano e dá lugar
ao conflito direto das relações humanas.
A partir desse ponto podemos dizer que os produtores não
estavam dispostos a nos fazer acompanhar um diário dia após dia do pré
apocalipse zumbi. 9 dias se passaram desde os acontecimentos do último episódio.
Onde nos deparamos com a primeira sensação de desconforto, a cerca montada pelo
exército, considerada a ‘área segura’. As personalidades entre os membros da
família começam a ficar mais evidentes nesse início de conflito sobre acreditar
ou não nos ‘homens verdes’. Nesta ficam Nick e Travis como os aparentes
satisfeitos com a situação. E coloca Madison e Chris os incomodados.
A perspectiva de como o episódio vai se resolver podemos
concluir antes mesmo do capítulo avançar. Mas apesar disso, as sequências
impressionam sendo este um dos pontos mais positivos do roteiro. O desenrolar de algo que
se assemelha a um jogo de xadrez começa a tomar forma, pondo cada personagem na
linha do perigo a sua maneira, e infiltrando alguns deles em determinados
núcleos.
O exército aparece como uma opção truculenta, o que mostra
bem o posicionamento dos criadores da série em relação ao que acontece na vida
real. Se já tivemos uma manifestação que se tornou um imenso conflito nos
primeiros episódios, agora temos claramente a personificação do “mal” nos
mocinhos. Eles não estão lá para ajudar de fato. Estão lá apenas para cumprir
ordens e garantir que ninguém faça nada que não “deva”. O rígido toque de
recolher, a demora para restabelecer os telefones, além de toda eletricidade, e ainda a ausência de respostas são
apenas elementos regrados do desconforto exercido como fator de base.
Chris percebe que existem sobreviventes do lado de fora das
cercas criadas pelo exército e conta para seu pai, que o ignora. Madison decide
olhar o que está do lado de fora e descobre que o exército matou um homem que não
estava transformado. Isso confirma suas suspeitas sobre as verdadeiras intenções
dos ‘homens verdes’. É aqui que Liza toma o lado aparentemente mais forte, pois
acredita que suas habilidades são necessárias e que está fazendo o certo. Está?
A situação chega a seu clímax depois que os oficiais levam
Nick para receber tratamento em outro local. Os militares agiram com a
tradicional truculência e apontaram armas para toda a família durante uma ação
noturna para não chamar muita atenção. Desiludida Madison sabia que algo iria
acontecer e se vê impotente diante da situação. Assim como Chris, que também
suspeitava, como mencionei os dois estão na área dos insatisfeitos, portanto, a
tendência é se aproximarem mais um do outro a medida que a história avança.
Ofelia que inicia um relacionamento com um dos soldados, é
outra que no próximo episódio entrará para o lado dos insatisfeitos, pois
quando ela descobre que há sim um estoque de remédios, mas que está sendo
mantido em resguardo pelo governo. Ela começa a duvidar que a ajuda de fato
venha.
A grande pergunta é: será que os militares levaram Nick e
outros embora porque já perceberam que qualquer um que morrer se torna zumbi ou
porque realmente possuem uma zona de quarentena para cuidar de pessoas? E
ainda: será que os militares possuem ordens de matar qualquer pessoa que esteja
fora da área de proteção? Pois a pessoa que tentou se comunicar com Chris e Madison
foi claramente fuzilada no final do episódio. Travis viu a luz que seu filho
havia falado, mas desta vez ouviu também os disparos das armas.
Not Fade Away é de longe o episódio mais lento até agora,
entretanto, rende o efeito de encaixe de cada um no seu lugar. De certo um
capítulo importante para a construção dos personagens. Com o diálogo entre
Daniel Salazar e Madison como um dos pontos mais verdadeiros do capítulo. Até
mesmo a cena inicial, uma sequência linda de se ver. Com “Perfect Day”, de Lou
Reed, observamos Travis num jogging pelas ruas, Nick curtindo a vida de patrão de
boa na piscina e tudo acontecendo como se fossem tempos normais. Existe uma
curiosa tentativa de Travis em ignorar que o mundo deixou de ser como era
antigamente e ele insiste em tentar agir como se estivesse tudo bem e que o
exército está lá apenas para ajudar.
Para os telespectadores ficou uma surpresa ao ser revelado
sutilmente que a vizinha de Madison cometeu suicídio. A carta dela para o
marido no final do episódio vista por Alicia é emocionante e nos prepara para o
clima quebradeira que seguirá nos próximos dois (e últimos) capítulos dessa
primeira temporada de Fear the Walking Dead.
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