sábado, 26 de setembro de 2015

Crítica Que horas ela volta?

Existe uma mística dos brasileiros para criticar de formas absurdas os filmes nacionais e isso mesmo sem nem assistirem a maioria que sai, saindo dos longas de grande público, que geralmente são comédias. Assim, quando aparece um filme aclamado primeiro no exterior, os brasileiros começam a ir no cinema em peso assistir, algo extremamente negativo. Esse é o caso de “Que horas ela volta? ”.
O longa conta a estória sobre a empregada doméstica Val (Regina Casé) que trabalha a treze anos para uma família de classe média alta no estado de São Paulo, saindo de Pernambuco para dar uma vida melhor para Jéssica (Camila Márdila), sua filha. Certo dia, sua filha dá a notícia de que está indo para SP em busca de estudar e prestar o vestibular, algo que gera todos os conflitos e toda a realidade de classe e de preconceito do Brasil.
 O filme mais falado nas últimas semanas tem uma razão de estar sendo tão debatido. A começar pelas atuações maravilhosas de Regina Casé e Camila Márdila. Se a primeira não for indicada a melhor atriz no Oscar do próximo ano, pode adentrar no caderninho de injustiças da terra em premiações. Aliás, se o longa não for indicado ao de, ao menos, filme estrangeiro, outra grande injustiça estará sendo cometida. Os outros atores não têm um grande destaque, são todos bem característicos. Todos estão bem e não atrapalham no andamento da narrativa. Seguindo, pela grande direção de Anna Muylaert. Ela dá o tom perfeito que a trama precisava, com uma câmera sempre parada, mas quando Jéssica chega, essa começa a se mexer mais, dando a sensação do abalo naquele lugar. A grande quantidade de tomadas próximas da porta da cozinha e do quarto da protagonista também são extremamente importantes para darem todo o ponto de vista que é visto no filme é por Val. O roteiro, também de Anna, é uma grande aula de roteirização. Diálogos maravilhosos, um ótimo desenvolvimento de personalidades, uma trama de fisga o telespectador (mesmo sendo bem lenta e precisando ser). Pura perfeição. Por último, a fotografia é belíssima. Muitos usos de contraste de luz e muitos belos planos dentro da casa e de objetos, algo que tem um recurso narrativo imenso para essa estória.
Existem cenas de determinadas películas assistidas durante a vida que não sairão das cabeças dos cinéfilos. E nessa temos duas (sim, isso mesmo). A primeira está relacionada com o vestibular na qual a filha da protagonista foi prestar na cidade de SP e a segunda vem logo numa sequência e envolve a piscina da casa da família. Esta é uma das cenas mais belas, sensíveis, sinceras e geniais que já pude assistir na vida. Qualquer fã de cinema irá ficar extremamente emocionado, tocado e movido pela beleza dela. Sobre a trilha sonora, ela é muito pouco presente, mas quando essa segunda sequência ocorre, se mostra totalmente clara e pura.
 A discussão sobre a realidade social é o tema base de toda a estória. Alguns, que olhem para algo bem básico que o longa quer passar, podem dizer que se trata de uma grande propaganda para o governo, algo que é muito simples de discordar, pois em nenhum momento é possível ver destaque na política. Apenas, sobre pessoas e realidades existentes, o que torna algo ainda mais belo.
“Que horas ela volta? ” é, sem sombra de dúvida, o melhor filme brasileiro dos últimos anos. Além disso, entrou no seleto grupo de grandes obras do cinema nacional. Possui uma perfeição tão bela, profunda e deliciosa de se assistir, que faz o amor de qualquer um pelo cinema aumentar cada vez mais. É muito bom perceber quando se assiste um filme que se tem a noção de certeza da transformação dele em um clássico e nesse, a sensação entra profundamente ao final dos 111 minutos. É o cinema na sua essência mais perfeita.


Nota: 10/10
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