quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Review Doctor Who S9x05 – The Girl Who Died



E se você descobrisse que a morte é uma habilidade? Um dom mesmo, como bem ensina o texto bíblico. Talvez um dos grandes dons que a humanidade possui. E algo que é cruelmente negado a um Senhor do Tempo. Ser imortal não é viver para sempre, mas assistir todos a sua volta morrerem. O tema morte mais uma vez bate na porta dessa nona temporada, garantindo que tenhamos uma reflexão mais precisa sobre o termo.
Escrito pelo showrunner Steven Moffat em parceria com Jamie Mathieson, veterano no seriado, além de responsável pelos excelentes episódios Mummy on the Orient Express e Flatine; temos um episódio que estruturalmente é similar a episódios como Robot of Sherwood. E nos traz também nuâncias ao conto do universo expandido em A Lança do Destino, de Marcos Sedwing.
Em The Girl Who Died observamos claramente como o Doutor encara a morte. Uma habilidade. A única que ele não possui, e que, ao que tudo indica, é algo que ele irá perseguir incessantemente até conseguir dominar. E essa busca logo deve se relacionar de algum modo ao disco de testamento mostrado no primeiro episódio, se inicia a partir desse capítulo da longa vida do Senhor do Tempo, que já viveu tantas vidas e já perdeu tempo, com a morte de uma garota viking chamada Ashildr, vivida por Maisie Williams (Game Of Thrones).
Muita expectativa foi gerada em torno da participação de Maisie Williams nessa temporada de Dr. Who. Afinal, teríamos a participação de uma célebre – e talvez a única com cérebro de verdade – Stark e Westeros. As especulações davam conta que ela poderia ser alguém ligada ao passado do Doutor ou mesmo do Mestre. Quando a temporada se iniciou revisitando as origens do Senhor do Tempo, seus antigos inimigos, e sua fuga de Gallifrey, essas especulações ganhavam mais força. Mas nenhuma delas se concretiza nesse episódio.
A situação dramática da “invasão extraterrestre” é amplamente usada no universo Who, o que, em certos momentos da narrativa, nos traz sensações de dejá vu. Percebam que o problema inicial apresentado, a Invasão dos Mire, é facilmente solucionado. O que torna o roteiro de Moffat e Mathieson interessante é como elementos da cultura viking são usados para solucionar o caso.
Contudo, não deixa de ser um episódio que retorna ao passado do Doutor. Questões sobre a fuga de Gallifrey são mais uma vez trazidas à tona e finalmente a referência à primeira participação de Capaldi na série é explicada. Na verdade, trata-se de um dos grandes momentos do episódio. Quando o 12º Doutor surgiu pela primeira vez na temporada passada, ainda um tanto quanto desnorteado, ele se perguntava acerca do porquê de ter escolhido aquele rosto, um rosto familiar. Com mais um daqueles momentos referenciando Doutores anteriores vemos David Tennant, O Décimo Doutor, por um breve minuto dialogando com Donna sua companion sobre salvar uma vida. A princípio parecia ser apenas algum tipo de piada interna, uma referência ao fato de Capaldi ter interpretado um coadjuvante no episódio The Fires of Pompeii. Mas parece que Moffat tinha de fato algo planejado desde antes, que apenas agora veremos se desvelar.
Como já havia citado nas reviews anteriores sobre a maturidade do relacionamento de Clara com o 12º Doutor tem estado cada vez mais orgânica e fluida. Portanto o roteiro deste episódio não perde a chance de dar pinceladas de como a relação entre Clara e o Doutor está mais madura e profunda. Em vários momentos, vemos o Doutor dizer o quanto Clara é importante para ele. De fato, gostando ou não, Clara tem um peso dramático muito importante dentro da série, não só por ser A Garota Impossível, mas é através dela que o roteiro a usa para lembrar ao Doutor o por que ele escolheu aquele rosto, e em uma excelente montagem da direção de Bazalgette, temos referências a Fires of Pompeii e o Doutor se redescobrindo como herói.
Porém, Moffat e Mathieson não nos deixam esquecer que toda ação gera uma reação e, ao salvar Ashilrd, somos novamente apresentados a estrutura de seres híbridos, como em The Witch´s Familiar. Seria esta a ligação para o que poderá acontecer à Clara? Seria uma referência direta ao encontro com Davros no primeiro episódio dessa temporada e à profecia citada por ele envolvendo o já ameaçador “híbrido”? Se a personagem de Maisie Williams, a corajosa garota viking Ashildr, virá a ser a temível criatura da profecia citada por Davros, isso ainda está para ser visto. Mas sem dúvida alguma é uma personagem que tem grande potencial que poderia retornar em outros momentos, talvez até como um novo antagonista, eternamente atormentado pelo agridoce presente que o Doutor lhe concede ao fim do episódio.
Vale lembrar sobre os momentos poéticos, quando, por exemplo o Doutor fala mais uma vez a língua dos bebês. Peter Capaldi, claro, mais uma vez arrebentando na intepretação fazendo de todo o resto do elenco quase que um penduricalho a lhe acompanhar. Além do que, Maisie Williams não está mal. Ela tem também bons momentos e bons diálogos com o Doutor.

Mais uma vez temos um episódio em duas partes, e essa parece ter sido uma ótima ideia dos produtores nessa temporada. Episódios em duas partes ajudam a quebrar a estrutura de “monstros da semana”, e dão espaço para se aprofundar melhor em personagens e a desenvolver melhor boas tramas. Esse episódio, assim, na verdade parece funcionar mais como uma preparação para a sua segunda parte – “The Woman Who Lived” – que promete ser melhor do que a primeira parte em densidade e relevância.
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