sábado, 7 de março de 2015

Ela não é o Aang

Resenha – Avatar: A Lenda de Korra



Continuação da série Avatar: A Lenda de Aang, este recente sucesso da Nickelodeon não podia ficar sem sua resenha aqui no blog. A série foi anunciada em 2010, após a grande repercussão de Aang, sendo lançada (finalmente) em 2012 no próprio canal da Nick. Em seu cenário nós vemos o mundo 70 anos depois do fim da primeira série, dando foco à Republic City – cidade criada por Aang e Zuko, atual centro político mundial e cidade mista de habitantes dobradores e não dobradores. Desta vez a estória gira em torno da Avatar sucessora de Aang, Korra. Korra é o extremo oposto de Aang, e, para a pessoa que vos escreve, este foi um dos pontos cruciais para o sucesso desta série. Dito isto, vamos começar a falando um pouco de cada temporada e em seguida farei uma avaliação geral.
Livro 1 – Ar
No Livro 1 vemos nossa protagonista como uma adolescente de 17 anos impulsiva, ansiosa e louca por pancadaria [
divaaa s2]. Ao contrário do Aang, Korra cresceu com toda a assistência que um Avatar pode ter – foi treinada pelos melhores mestres e cercada num ambiente de treinamento totalmente seguro, sendo protegida pela Lótus Branca. Após anos de preparo, a jovem Avatar se vê na necessidade de sair daquele ambiente pequeno no Polo Sul e ver mais do mundo, podendo ainda receber o treinamento de dobra de ar com o último Mestre do Ar, Tenzin, filho caçula de Aang. Reforçando ainda mais as diferenças entre os dois avatares protagonistas, Korra consegue dobrar água [óbvio, sendo ela da tribo da água], fogo, terra mas até então nem uma brisa de ar. Nesta parte revemos como a dobra dos elementos está ligada à personalidade da pessoa. Aang tinha dificuldade em dobrar terra, por ser um garoto muito calmo, não agressivo e extremamente espiritualizado; Korra apresenta dificuldade não apenas em dobrar ar, mas principalmente em se conectar com o lado espiritual do Avatar, por ser agressiva, impetuosa e impaciente. O que inclusive fez algumas pessoas (a princípio) não gostarem dela.




Indo para Republic City, Korra começa a formar seu círculo de amizades e também a chamar a atenção da opinião pública. Se na época de Aang era difícil ser o Avatar com a Nação do Fogo caçando-o, nesta nova fase vemos um nível de dificuldade diferente, onde Korra é perseguida pela impressa e sofre com as pesquisas de popularidade divulgadas nos jornais. Inclusive, outro ponto que fez algumas pessoas não gostarem dela foi essa sensibilidade pela falta de amadurecimento para lidar com críticas, tanto dentro quanto fora da série.
Lutando ao lado de Korra temos:
Mako e Bolin: São irmãos e, nesta primeira temporada, atletas de um jogo chamado Pro-Bending (esporte praticado por dobradores de fogo, terra e água tão popular em Repulic City quanto o futebol no Brasil). Korra entra para o time deles, os Furões de Fogo, se tornando uma Avatar atleta e treinando junto com eles.

Asami Sato [*OVARIES EXPLODED*]: Filha de Hiroshi Sato, dono magnata das Indústrias do Futuro, Asami vai muito além de uma “filhinha de papai” que cresceu e foi criada na riqueza. Ela é uma garota inteligente, independente, linda, excelente motorista de seja qual for o meio de transporte, criativa engenheira mecânica e mestre em artes marciais. Nesta primeira fase não tem uma relação tão próxima com Korra por elas duas mostrarem interesses amorosos por Mako, mas mesmo assim isso não impede que ela faça parte do Time Avatar (formado por ela, Korra, Bolin e Mako).


Tenzin e família: Como dito anteriormente, Tenzin é o filho mais novo de Aang e Katara, sendo também o único dobrador de ar entre seus irmãos. Além disto, ele exerce importância política por ser Conselheiro do Parlamento de Republic City. Sua família é composta por Pema (esposa de Tenzin, mãe de seus filhos), Jinora (a filha mais velha devoradora de livros e mais séria dos irmãos), Ikki (filha do meio tagarela e doce), Meelo (a definição de um garoto com problemas com gases) e Rohan (o caçula bebê). A família de Tenzin se torna também uma extensão da família de Korra, sendo ela tratada como irmã mais velha pelas crianças e praticamente uma “afilhada” de Tenzin e Pema. Os três filhos mais velhos são, assim como o pai, dobradores de ar e tentam ajudar a Avatar a desenvolver suas habilidades na dobra e na espiritualidade.

Lin Bei Fong : Filha da Toph, Chefe da polícia de Republic City e, assim como a mãe, excelente dobradora de terra e metal. Aliás, parecida com mãe até mesmo em seu comportamento, durona e extremamente ríspida. Em seu primeiro encontro com Korra acaba prendendo-a mas, com o passar do tempo, se mostra bastante preocupada com a jovem Avatar e se sente responsável por ela. Uma personagem que vai muito além de um a mulher casca grossa.

Mas, uma trama não se faz apenas de mocinhos. Nesta primeira temporada, e eu diria em todas as outras, os vilões de A Lenda de Korra são muito bem trabalhados e sempre parecem infinitamente mais fortes do que nossa protagonista. Apresentando agora, o vilão do Livro 1: Amon. Este é o misterioso líder de uma organização chamada de Igualistas, grupo de defende um discurso anti-dobradores; sendo, obviamente, composto por pessoas que não tem habilidades de dobra elemental. Estas pessoas seguem o discurso de Amon que diz que os não-dobradores são marginalizados e oprimidos por “não serem especiais”. O mais intrigante é o fato do pensamento deste vilão ganhar força por suas habilidades misteriosas [as quais eu não vou contar porque seria um spoiler e eu quero que vocês assistam :v].

Livro 2 - Espíritos
Após seu conflito com Amon, Korra busca meios para aperfeiçoar suas novas técnicas tanto em dobra de ar quanto com seu lado espiritual recentemente aflorado. A Avatar segue de volta à sua terra natal no Polo Sul, onde sua tribo e navios de carga tem sofrido com ataques de espíritos enfurecidos por nenhuma razão aparente ao princípio.
Levando consigo o Time Avatar e Tenzin nesta viagem, podemos vê-la também interagindo com novos personagens:

Unalaq: Tio de Korra, irmão do pai dela, Tonraq. Também é o chefe da Tribo da Água do Norte e um grande conhecedor dos espíritos e tradições ligadas a eles – principal motivo pelo qual resolve intervir na Tribo da Água do Sul, chefiada por seu irmão - sendo ainda um excelente dobrador de água. Não tem uma relação muito boa com o irmão e meio que disputa o posto de tutor de Korra com Tenzin nesta fase (que é outro personagem que tem um importante passo de crescimento).

Eska e Desna [weird people ‘-‘]: Irmão gêmeos, filhos de Unalaq e obviamente primos de Korra. Eska é uma garota e Desna é um garoto, SIM, é importante dizer isto. Figuras um tanto exóticas e com um jeito de falar muito peculiar, são próximos e fiéis ao pai e ótimos dobradores de água também.


Varrick: Provavelmente o maior magnata da série tendo fortíssimas referências do Tony Stark em sua personalidade. Arrogante e metido mas, definitivamente, não do jeito convencional [eu diria que ele e Bolin são os personagens mais divertidos da série]. Possui também uma mente revolucionária e extremamente criativa, um inventor cheio de ideias tanto brilhantes quanto loucas. Acompanhado sempre de sua assistente Zhu Li (que poderia facilmente ser um robô multiuso,aliás muito mais que isso até). Varrick também é dono da frota de navios que tem sofrido com o ataque dos espíritos e por isso se envolve na plot. Sua influência de mercado e política também o torna um parceiro de negócios em potencial para Asami e as Indústrias do Futuro.

Kya e Bumi: Irmãos mais velhos de Tenzin, Kya dobradora de água e Bumi não-dobrador. São fundamentais para que vejamos como se dava a relação dentro da família criada por Aang e Katara, coisa que tem algum destaque neste Livro.

Voltando ao enredo, nesta temporada temos um cenário político muito bem explorado na relação das tribos do Norte e Sul, mas creio que se der mais detalhes ou exemplos estarei tirando vários momentos de surpresa. Inclusive, a própria Republic City sofre mudanças significativas em seu governo desde o rebuliço causado por Amon.

Apesar de toda esta trama em torno das tribos da água, o ponto mais forte dessa temporada se dá em dois episódios específicos, onde vemos em duas partes como surgiu o primeiro Avatar: Wan.
[o primeiro Avatar...o número um...em inglês “one”...Wan...sacaram? :v]
Uma belíssima animação, ensinamentos muito profundos e ainda uma emocionante história sobre o sacrifício e a missão que é ser o Avatar. Contribui muito no crescimento da nossa protagonista.

 



Ainda dentro desta parte, e mais para o final dela, Korra terá que lidar com situações extremamente complicadas e que colocam suas habilidades de Avatar numa conjuntura desesperadora [principalmente pra quem assiste, eu quase me desesperei @-@’].
Os criadores começam a mostrar que Korra vai ser a Lara Croft das séries animadas. Mas, para o nosso alívio e felicidade, o amadurecimento de Korra e sua autoestima nos dão belas lições de vida e nos mostram que ela não é menos cativante do que Aang (muito pelo contrário aliás). Um nome chave para esta temporada? Nada mais nada menos que: Jinora (Aang estaria muito orgulhoso desta neta com toda a certeza).

Livro 3 – Mudanças
Como diz o próprio nome, esse período traz consigo reviravoltas muito fortes e presentes ao longo dele. Novos dobradores de ar, Republic City habitada por espíritos dos mais variados, surpresas dentro da família Bei Fong e uma visita ao reino de Ba Sing Se fazem desta temporada provavelmente a mais complexa de toda a série! [e particularmente minha favorita, assistam para descobrir como chegamos a este ponto, haha] Voltamos a ver também o Time Avatar viajando pelo mundo, dando um feeling nostálgico da Lenda de Aang, saindo do centro de acontecimentos que até então era Republic City e passando o bastão para o  Reino da Terra.

Korra, nesta parte um pouco mais velha, revela-se cada vez mais uma Avatar que sabe mostrar serviço e se torna mais feminina, atraente e bastante sensata. Nesta temporada temos dois pontos extremamente importantes:
1. A Lótus Vermelha: uma organização de propósitos desconhecidos porém com um forte interesse na Avatar e em suas habilidades.
2. Zaheer: um personagem construído de maneira FENOMENAL e líder desta organização.

Temos personagens novos? Temos. Temos vilões? Também. Se eu vou falar sobre eles e descrevê-los? Não vou, hehe. E, infelizmente, sinto que não posso e os motivos são bem simples. O fato é que tais revelações dão spoilers absurdos pra quem não assistiu a série, mesmo que obviamente a discussão sobre esses personagens novos e vilões seria algo maravilhoso de se falar sobre.
[aproveitem e nos mandem e-mails ou mensagens no Facebook se quiserem discutir isso e poder falar sobre spoilers, a Zekken aqui terá prazer em respondê-los :3]
Ao final desta temporada não esqueçam de separar seus lenços e sejam corajosos para verem cenas fortíssimas dentro deste desenho. Nesta fase, A Lenda de Korra mostra que, diferentemente da Lenda de Aang, a animação está voltada realmente para um público mais velho e não necessariamente infantil. Aliás, eu acredito que esta série não é de criança mesmo. Há uma complexidade maior também nos ensinamentos e falas dos personagens neste período, que ficou com uma filosofia muitíssimo rica. O final desta temporada vai ditar completamente a plot da sua sucessora.

Livro 4 – Equilíbrio
Como o dito anteriormente, o que define totalmente o curso desta temporada é o final da terceira. Após passar por uma experiência fortíssima, Korra é obrigada a passar três anos distante de seus amigos, de Republic City e do resto do mundo. Nesta parte o tal equilíbrio é exatamente a nossa protagonista tentando lidar com as consequências desta experiência e desses três anos afastada de tudo e todos.  Por isto e por outros acontecimentos deste Livro, é reforçada a ideia de que A Lenda de Korra não é uma série que deveria estar na classificação infantil exatamente; ela abre espaço para discussões de temas como depressão, crise de identidade e ditaduras. Um final muito bonito e com direito a polêmicas encerraram a série com uma sensação de missão cumprida.

Quadro geral: 


Antes mesmo de sua estreia, Avatar: A Lenda de Korra carregava consigo um grande desafio: suceder A Lenda de Aang mantendo o alto padrão dela. Quando eu soube que haveria uma sequência do primeiro Avatar e que a protagonista seria uma garota, eu me lembro de ter ficado muito empolgada (mesmo não tendo conseguido acompanhar desde seu lançamento por motivos de estudos, hehe). Apesar disso, eu soube que muita gente estava largando a série logo no inicio exatamente por pensarem que a Korra era “muito chata, impulsiva que só faz besteira, não sabe nem manter a calma, menina macho, muito diferente do Aang” [mimimimimimi...zzzzzzzz]. É verdade que não é fácil lidar com gente muito ansiosa, mas parece que essas pessoas ficaram tanto na expectativa de ter um “padrão Avatar” – aquele personagem bonzinho demais, espiritualizado e superciente de suas responsabilidades – que nem deram uma chance pra própria Korra ou pro resto de sua jornada. Vale lembrar que na primeira estória fica visível o quanto Kyoshi, Roku e Aang são distintos entre si, então não se podia esperar menos em relação à Korra. Mesmo assim, a série teve que lidar com uma rejeição da nova Avatar tanto dentro quanto fora dela, e o fato de eu poder ter visto este começo e acompanhado até o seu vitorioso final me faz sentir muito orgulho por ela.

Desde sua antecessora e ao longo da série vemos uma evolução nos traços da animação, a beleza dos movimentos de dobra e dos cenários não deixam nada a desejar (principalmente no Livro 3). A ambientação em estilo steampunk também foi um dos pontos mais fortes dela, proporcionando a sensação certa da passagem de tempo de Aang até Korra e sendo muito bem explorado pelos roteiristas e desenhistas.

No geral, as quatro temporadas tiveram um bom ritmo e enredos bem construídos. Considero o Livro 2 não tão forte quanto os outros mas, mesmo tendo uma primeira metade não tão empolgante, a partir do episódio 7 (Inícios) ela retoma a ação e nos dá um final intensíssimo. A base política também foi algo muito interessante de se acompanhar na Lenda de Korra, a cada temporada uma referência diferente relacionada aos seus vilões correspondentes – anarquia, Guerra Fria, totalitarismo são alguns exemplos – coisa que não vimos na Lenda de Aang, onde temos o Senhor do Fogo Ozai como vilão principal do início ao fim.

De todas as suas características, de longe a mais marcante da série foi o trabalho na evolução de personagens. Na maioria das séries onde temos um protagonista mais imaturo, no máximo ele e mais duas figuras mostram um amadurecimento ao longo da estória; na Lenda de Korra vemos um crescimento grupal, onde até mesmo os mais velhos e com o perfil que seria (à princípio) “fixo” aprendem a lidar com questões de personalidade e velhas feridas. Isso foi feito de uma maneira muito sutil e bem pensada, ao meu ver. A força das mulheres, não apenas a Korra, também rompe com vários estereótipos sem minimizar a feminilidade delas, foi algo bonito de se ver.

Focando um pouco na evolução da Korra (e meio que dando um spoiler por ser algo que eu REALMENTE não poderia deixar de falar), vemos em certa parte uma referência aos Studios Ghibli e seu filme Contos de Terra e Mar, no qual ambos os protagonistas têm que enfrentar seus medos e lidar com suas sombras. Dentro dos conceitos da psicanálise, a sombra é “como o indivíduo oculta nos recônditos de sua psique tudo que é rejeitado pelos padrões sociais e por si mesmo (...) do domínio da força bruta, ou seja, o monstro escondido dentro de cada um (...)”. Como o dito anteriormente, A Lenda de Korra está muito além de um desenho infantil. O fato dela trazer reflexões deste nível (não apenas neste momento mas em toda a série) nos envolve muito mais com os personagens, fazendo o sentimento de empatia inevitável.

Com tudo o que A Lenda de Korra aborda, a animação levou o título de subversiva e um dos pontos que deixa isso bem nítido foi a polêmica do seu final. Os criadores, Mike DiMartino e Bryan Konietzko, além de tudo que poderia ser colocado na série resolveram por tornar a relação de dois personagens homoafetiva. SIM, Avatar: A Lenda de Korra foi o primeiro desenho da Nickelodeon a mostrar um casal homossexual canon, ou seja, verídico dentro da trama. Sobre esta parte (obviamente não revelarei os nomes dos personagens) mas devo dizer que, até chegar a ser real, a revelação implícita do casal foi feita de forma bastante delicada e bonita. Muitos ainda criticam o fato dele existir com os argumentos de que “Agora tudo tem que ter personagem gay? Antigamente era melhor! Não tinha essa pouca vergonha! Querem nos fazer engolir os homossexuais de qualquer jeito! Não é coisa que se mostre pra criança!” [mimimimimimimimimi...zzzzZZZZzZzzzZZZ]. Para estas pessoas, uma parte da resposta da dupla de criadores foi: “(...) essa decisão não foi feita apenas por nós. Fizemos isso por todos os nossos amigos, familiares e colegas gays. Já passou da hora da nossa mídia (inclusive a mídia infantil) parar de tratar pessoas não-heterossexuais como não-existentes, ou como algo exclusivamente provocativo.” [*aplaudindo de pé*]. Em resumo, representatividade para que as crianças, jovens e até mesmo adultos que acompanharam a série possam começar a ver homossexuais como pessoas que tem o direito de amar, assim como qualquer ser humano.

 Enfim, a série de Korra cumpriu bem a sua missão. Não deixou a desejar na sua qualidade em relação à de Aang, nos trouxe uma estória cheia de encanto mesmo que tratasse de temas fortes e pesados, desafiou expectadores em seus tabus, ensinou lições para toda a vida e nos deu personagens e uma protagonista que serão sempre lembrados com muito carinho e orgulho. Ainda não se sabe se haverá uma continuação (um Avatar dominador de terra no caso) mas aconteça o que acontecer, aguardarei ansiosamente para ser surpreendida e envolvida mais uma vez por este mundo da série Avatar.


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