Inadequação, incômodo e talento natural são apenas algumas
das principais qualidades e defeitos que os personagens do mais novo projeto de
Tina Fey expressam. Aquele sentimento incômodo que insiste em nos dizer que nós
não somos exatamente adequados para a vida que estamos vivendo no momento, é a
base de Umbreakble Kimmy Schmidt.
A atriz Ellie Kemper que viveu Erin em The Office, agora dá
vida a Kimmy Schmidt que após 15 anos confinada em um bunker com mais três
mulheres, afastada da sociedade e vítima de um fundamentalista religioso num
culto apocalíptico. Sem qualquer conhecimento das novas tecnologias e de
referências culturais, Kimmy decide viver em Nova York e “recuperar” o tempo
perdido. Com apenas com as roupas do
corpo e um dinheiro da indenização, a ingênua, mas inabalável jovem precisa
adaptar-se à realidade enquanto luta com seu déficit de socializar-se por ter
passado tanto tempo presa.
A comediante foi capaz de passar confiabilidade e
principalmente credibilidade ao lidar com situações esdrúxulas e surreais, como
de costume nos roteiros da saudosa Tina Fey. O nonsense do seriado começa quando somos apresentados aos
personagens secundários como o colega de quarto Titus Andromedon, vivido pelo
ator Tituss Burgess. Dizer se de passagem este personagem é um show a parte,
por vezes sustenta a comédia sem a presença de Kimmy. Sua busca pela fama e
suas tentativas sem sucesso são impagáveis. Sem mencionar os chiliques de Lillian
Kaushtupper (Carol Kane) a senhoria da moradia de Titus, onde Kimmy também
passa a conviver.
O maior exemplo talvez seja Jacqueline Voorhees, a
socialite mimada vivida por Jane Krakowski. A personagem mergulhou tão
profundamente em sua vida fútil de rica vivendo em Manhattan que as memórias da
sua juventude lhe assombram (a natureza dessas memórias é não apenas uma piada
ótima, como também uma metáfora para os EUA). Isso vale para todos os outros
que aparecem bem ajustados, mas demonstram suas loucuras no instante em que
conhecemos um pouco mais sobre eles. Como a irritante enteada de Vorhees, que
curiosamente se chama Xanthippe “Lannister” Vorhees.
Tina Fey e Robert Carlock entregam um texto afiado, ácido e
acima de tudo sagaz. Todos os diálogos são inspiradíssimos, assim como menções
políticas, culturais e até mesmo a polêmicas recentes, que são sempre inseridas
em um contexto em vez de simplesmente jogadas para “constar”. O início da série
é morno, mas a medida que os capítulos avançam a qualidade aumenta de maneira
surtada, se é que me entendem. O roteiro, os personagens e as piadas com bom
timing tornaram o seriado muito divertido e gostoso de acompanhar. Você
consegue, facilmente, ver vários episódios seguidos sem cansar. Curiosamente a
série tinha sido produzida e pronta para NBC, mas no final o canal acabou
rejeitando.
Divertida, leve e deliciosa, essa nova comédia da Netflix
tem todos os elementos para tornar-se a nova queridinha da vez. E não poderia
ter vindo em melhor hora contendo ainda um toque da genialidade Community, a
essência marcante de 30 Rock e a graça da saudosa Parks and Recreation.
Nota: 8,5
0 comentários:
Postar um comentário