sábado, 14 de março de 2015

Crítica – Umbreakble Kimmy Schmidt


Inadequação, incômodo e talento natural são apenas algumas das principais qualidades e defeitos que os personagens do mais novo projeto de Tina Fey expressam. Aquele sentimento incômodo que insiste em nos dizer que nós não somos exatamente adequados para a vida que estamos vivendo no momento, é a base de Umbreakble Kimmy Schmidt.
A atriz Ellie Kemper que viveu Erin em The Office, agora dá vida a Kimmy Schmidt que após 15 anos confinada em um bunker com mais três mulheres, afastada da sociedade e vítima de um fundamentalista religioso num culto apocalíptico. Sem qualquer conhecimento das novas tecnologias e de referências culturais, Kimmy decide viver em Nova York e “recuperar” o tempo perdido.  Com apenas com as roupas do corpo e um dinheiro da indenização, a ingênua, mas inabalável jovem precisa adaptar-se à realidade enquanto luta com seu déficit de socializar-se por ter passado tanto tempo presa.

A comediante foi capaz de passar confiabilidade e principalmente credibilidade ao lidar com situações esdrúxulas e surreais, como de costume nos roteiros da saudosa Tina Fey. O nonsense do seriado começa quando somos apresentados aos personagens secundários como o colega de quarto Titus Andromedon, vivido pelo ator Tituss Burgess. Dizer se de passagem este personagem é um show a parte, por vezes sustenta a comédia sem a presença de Kimmy. Sua busca pela fama e suas tentativas sem sucesso são impagáveis. Sem mencionar os chiliques de Lillian Kaushtupper (Carol Kane) a senhoria da moradia de Titus, onde Kimmy também passa a conviver.
O maior exemplo talvez seja Jacqueline Voorhees, a socialite mimada vivida por Jane Krakowski. A personagem mergulhou tão profundamente em sua vida fútil de rica vivendo em Manhattan que as memórias da sua juventude lhe assombram (a natureza dessas memórias é não apenas uma piada ótima, como também uma metáfora para os EUA). Isso vale para todos os outros que aparecem bem ajustados, mas demonstram suas loucuras no instante em que conhecemos um pouco mais sobre eles. Como a irritante enteada de Vorhees, que curiosamente se chama Xanthippe “Lannister” Vorhees.
Tina Fey e Robert Carlock entregam um texto afiado, ácido e acima de tudo sagaz. Todos os diálogos são inspiradíssimos, assim como menções políticas, culturais e até mesmo a polêmicas recentes, que são sempre inseridas em um contexto em vez de simplesmente jogadas para “constar”. O início da série é morno, mas a medida que os capítulos avançam a qualidade aumenta de maneira surtada, se é que me entendem. O roteiro, os personagens e as piadas com bom timing tornaram o seriado muito divertido e gostoso de acompanhar. Você consegue, facilmente, ver vários episódios seguidos sem cansar. Curiosamente a série tinha sido produzida e pronta para NBC, mas no final o canal acabou rejeitando.

Divertida, leve e deliciosa, essa nova comédia da Netflix tem todos os elementos para tornar-se a nova queridinha da vez. E não poderia ter vindo em melhor hora contendo ainda um toque da genialidade Community, a essência marcante de 30 Rock e a graça da saudosa Parks and Recreation.


Nota: 8,5
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