Fantasmas à bordo numa instalação de minério subaquática,
nada mais justo para mais um cenário aventuroso para o Doctor e sua companion
Clara. Em Under The Lake tivemos a chance de presenciar o desenvolvimento da
maturidade em que se encontra a relação do 12º Doutor com Clara, portanto nesse
desfecho de arco temos a reflexão sobre a mortalidade.
Toby Whithouse é o homem por trás do roteiro desse arco, o
que antes de mais nada é seguro dizer que ele cumpriu o que prometeu no
capítulo anterior. Tivemos uma sólida base no drama e personagens que se
desenvolveram e foram relevantes do início ao final do arco. Before The Flood
conseguiu encerrar de maneira cirúrgica e pontual cada detalhe que abrangeu,
interligando os pontos, não obstante, acrescentando alguns que serão utilizados
depois.
Uma das maiores conquistas desse arco está na primeira cena
deste episódio, onde Peter Capaldi quebra a quarta barreira, dialogando com o
público sobre sua estratégia, que um dia fez história. Após viverem uma série
de aventuras Clara e o Doutor agora devem procurar entender o que houve antes
da inundação. Enquanto Under The Lake foi um capítulo voltado ao quase horror
pela ameaça fantasmagórica, Before The Flood possui uma atmosfera sci-fi,
quando observamos o Doutor criar uma intervenção na linha temporal. Quando um
acontecimento não poderia acabar diferente da forma que começou. Ou seja, temos
o famoso Paradoxo de Bootstrap como centro da questão. Em que a pergunta
desferida no início do episódio serve de exemplo perfeito para o desenvolver da
trama: “Quem, de fato, compôs a 5º Sinfonia de Beethoven? ”
Constituída com bastante competência é notável a dinâmica
do elenco para com a conclusão do roteiro. Onde o episódio 4 ocorre antes do
episódio 3; entretanto, os eventos do episódio 4 só foram possíveis porque o
Doutor os viu acontecendo no episódio 3. Por essa razão a coerência com o
exemplo de Beethoven veio tanto a calhar para o meio narrativo.
Volto a pontuar sobre o espaço para a linguagem de sinais,
na personagem Cass (Sophie Leigh Stone) oferecendo um papel de respeito. Pois
aqui vemos momentos que ela teve sem a presença do tradutor Lunn (Zaqi Ismail).
Onde apenas Cass e Clara estão presentes em cena, sem legenda para o que Cass
tenta passar como informação. Isso demonstra o lado humanitário que vale a pena
ser mencionado, por demonstrar solidariedade e a consciência de que a linguagem
dos sinais é uma língua como nenhuma outra. Isso mostra como Doctor Who é uma
série sem medida, por esses e outros detalhes que desperta sua magia e
interesse do público.
Vale lembrar sobre a participação de Corey Taylor,
vocalista da banda Slipknot e Stone Sour, que fez com propriedade o urro do Rei
Pescador (Fisher King). Onde temos mais dois papéis, um para um suit actor
vestir o figurino da criatura e outro para dublagem da mesma. Em outras
palavras, três pessoas para apenas um personagem, o que demonstra a qualidade
da equipe de produção. Sem mencionar a cena em que o vilão com seu design
bárbaro tem um diálogo com o Doutor, de forma imponente e ameaçadora desferindo
frases como: “Você ainda está preso na sua história, ainda protegendo o tempo
como um escravo. Disposto a morrer ao invés de mudar uma palavra do futuro. ”
Traz uma beleza estética impressionante, tornando este um dos melhores takes do
capítulo.
A abertura na versão rock foi outro fator determinante para
mais um detalhe que colaborou para um episódio bem dirigido, tremendamente bem
escrito, inteligente e ao mesmo tempo um pouco angustiante. Before The Flood
deu uma aula sobre cinema, mudando a locação, alternando entre uma fotografia
destoante para uma mais sensitiva. Certamente um arco a ser lembrado, pela sua supremacia
na forma de construção e finalização.
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