domingo, 25 de outubro de 2015

Crítica do livro Cidade de Deus Z

Obras que trabalhem com a temática zumbi sem ter uma grande crítica ou ideia por trás dela estão se tornando cada vez mais escassas. Assim, cada vez que novas saem com esse cunho devem ser divulgadas, ampliadas e faladas. Esse é o grande caso do mais novo lançamento da editora Leya, Cidade de Deus Z.
A estória do livro começa as seis da tarde em mais um dia na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, na qual os moradores são impedidos de adentrar e sair da comunidade devido a policiais armados. Poderia ser apenas mais uma operação de costume para os moradores daquela comunidade, mas algo assustador viria: uma invasão zumbi na favela. Ao se verem cercados, um grupo de traficantes e moradores decidem sair do local, mas devem enfrentar pela frente a ira dos zumbis e dos policiais, dispostos a matar qualquer um que aparecesse pela frente.
O livro é escrito pelo autor Julio Pecly, que infelizmente faleceu no início desse ano, que foi morador da Cidade de Deus por boa parte de sua vida. Esse detalhe ajuda muito para a criação em torno da trama e de todas as críticas sociais que ele implementa ali. Falando nessas, é interessante realça-las. Sob o primeiro lugar, como as pessoas poderiam se tornar zumbis: através de um determinado tipo de cocaína malfeita. Isso já cria uma grande realidade de como os usuários de drogas, com a utilização em excesso, poderiam ficar. Em segundo lugar, o medo dos moradores da comunidade perante a polícia. Esse fato é extremamente interessante, principalmente relacionado a repressão que acontece realmente da polícia militar em várias favelas e a demonstração da insegurança dos moradores, com os traficantes e a polícia é extremamente bem-feita. Em terceiro, sobre a exclusão social e moral que as favelas passam na sociedade. É extremamente interessante as falas da repórter fora do ar preocupada se os zumbis iriam chegar na zona sul (área rica da cidade) e a preocupação do prefeito de chegarem nessa parte rica, chegando a ordenar para os policiais que fechavam a favela de matarem qualquer um que vissem pela frente. Todas essas críticas empregadas já criam algo mais interessante e que melhora na leitura do livro.
 Continuando sobre a leitura, Julio Pecly escreve extremamente bem e de uma maneira bem crua, ou seja, bem realista. Assim, é possível se conectar por dentro da leitura muito rapidamente e de maneira bem incisiva, mas talvez esse fato leve ao grande problema do livro: seu ritmo. A obra é bem pequena, cerca de 160 páginas, mas, depois do ápice inicial, ela fica num morno até seu final, com alguns momentos de grande pico. Dessa maneira, a leitura fica bem cansativa, mas é até de certa forma recompensante, pelo seu final espetacular. Outro detalhe negativo é a grande quantidade de personagens e pontos de vista desses. Fica um pouco embolado e enjoativo, além de não levar apatia por nenhum desses. As mortes acabam, pelo fraco desenvolvimento, sendo um pouco fracas. O grande ponto, nesse sentido, é um possível mal desenvolvimento da crítica colocada, que, se fosse mais bem trabalhada, seria melhor.
A publicação foi realizada pela Editora Leya no seu selo de fantasia Casa da Palavra. A edição é bem caprichada e possui uma bela capa escolhida, além do belo acabamento dado no Z do título. O único fato negativo foram as linguetas que, muito grandes, amassam com muita facilidade.
Cidade de Deus Z retoma um dos pontos mais interessantes que veio de início com obras da temática zumbi: a crítica social. Só por esse ponto, o livro sobe em muitos aspectos, mas a grande questão é que desliza de uma maneira um pouco mais forte em outras, mesmo assim, é uma grande leitura e deve ser apreciada.

Nota: 7,3/10
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