Nem todos os caminhos levam a um bom episódio, mas todo
excelente capítulo que se preze deve possuir um bom discurso. Em Zygon Inverson
vemos a magnificência do Doutor no retorno de seus tocantes e realísticos
discursos sobre o bem, o mal, o perdão e o amor ao próximo. Delicadamente bem
trabalhado em seus detalhes de estrutura narrativa o oitavo episódio veio para
trazer uma lágrima, ou algumas (se você for emotivo como eu).
Escrito por Peter Harness em parceria com o showrunner
Steven Moffat, o episódio da semana traz uma excelente conclusão ao arco, sem
esquecer as discussões inicializadas sobre política e identidade de gênero,
acrescentando ainda o emponderamento feminino e mostrando as diretrizes de um
pacifista. Com o caos implantado no capítulo passado, agora vemos uma exímia
diminuição sob esse aspecto da direção de Daniel Nettheim, o mesmo através das
paletas de cores em tons azuis e da trilha sonora o clima de espionagem e
militarismo bélico, sendo reforçado pelos figurinos escuros e a aparição de
bazucas e ogivas nucleares.
Um dos pontos mais bem-sucedidos da trama nesse ponto, fora
o discurso do Doutor, é a forma única como o roteiro trabalha na ligação de Clara
com seu outro eu (Zygon), que se intitula como Bonnie. Destaque para Jenna
Colemman por estar visceral. Pelas nuncias do seus olhares, postura, modo de
andar e tons de voz, o expectador consegue facilmente diferenciar qual é a
Clara que está em cena e qual é a Zygon disfarçada.
Vale pontuar aqui, que a 9º temporada vem sendo claramente
um mergulho em situações extremas, mortais, e mais perigosas do que normalmente
o lorde do tempo e sua companion estão acostumados a lidar. Fora o fato das
tramas trazerem consigo fortes composições realistas, de forma a temer pelos
personagens e digerir, compassadamente, a “crônica da morte anunciada” que
parece permear todo o corpus dessa temporada, que finalizará com a despedida já
declarada de Clara.
Outro esplêndido ponto está nas atrizes a já citada Clara,
mas também em Osggod e Kate que são personagens que brilham, tomando não só
suas próprias ações, como também a resolução dos conflitos, cabendo ao Doutor
apenas o papel de diplomata entre as ações.
O conflito interminável possui uma justificativa bastante
coerente – novamente aqui o Doutor se recorda da Guerra do Tempo e mesmo que
ele tenha a memória nítida de que conseguiu salvar seu povo, suas ações nesta
guerra o marcaram de forma muito forte, lembranças que talvez sejam ainda mais
dolorosas após 900 anos em defesa de um planeta em The Time of the Doctor. O
fato da dupla Osgood Boxes possuir o mesmo desenho da arma Moment, sem
mencionar o fato de estarmos diante de uma grande crise na Terra traz tanta
emoção tendo em vista o histórico do Doutor nesse instante, que o impacto com o
público é grande. Pois sabemos o peso que teve a Time War e paralelo que isso
pode ter, dadas as devidas proporções para a humanidade no contexto do arco.
Apesar da minha opinião sobre considerar o capítulo 2 The
Witch’s Familiar um excelente episódio, é inegável o quão bem escrito e
excelentemente bem dirigido foi The Zygon Invasion/The Zygon Inversion. A
dispor-se de tratar de diversas camadas políticas em seu enredo com um discurso
e temática perfeitamente interconectados entre os eventos que hoje marcam toda a
Europa e o Oriente Médio (Estado Islâmico e Israel X Palestina) principalmente,
tal qual a onda de imigrantes e refugiados no velho Continente. E com isso o
fortalecimento de grupos separatistas; os grupos políticos marrons e sua ideia
de purificação da população na Europa.
Um dos melhores arcos, sem dúvida da Nova Série a discutir
sobre identidade, pacifismo e antibelicismo em toda trajetória de Doctor Who.
Provando da diplomacia de um herói que não usa poderes ou os punhos e ainda
assim consegue salvar o dia apenas usando da ciência e diplomacia.
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