O quarto longa de Daniel Crag como James Bond trouxe uma
direção comprometida com cenas de ação dignas, uma fotografia que entrega
excelentes cenários e closes nos rostos dos personagens. O que faltou para o
quarto longa da atual franquia do agente se sustentar como produção individual
foi o roteiro.
Assim como Operação Skyfall (considerado pela maioria dos
críticos uma obra-prima da série), 007 Contra Spectre foi dirigido por Sam
Mendes, que deve se despedir da franquia por aqui. O novo longa vem com a clara
intenção de resolver questões sobre o passado do agente para começar uma nova
fase. Apesar de Spectre possuir boas intenções e cenas detalhistas, faltou
coragem para dar continuidade a narrativa e técnica apresentado em Skyfall.
Como mencionei o longa consegue prender o olhar graças a
excelente direção de Mendes. O exemplo disso está no maravilhoso plano
sequência na abertura, durante o Dia dos Mortos, na Cidade do México. O que
essa introdução consegue fazer com magnificência, o roteiro consegue abafar.
Pois a mesma representa os fantasmas do passado que Bond terá de lidar no
filme.
Convocado por seu atual chefe, M (Ralph Fiennes, de O
Grande Hotel Budapeste), Bond é colocado sob licença por causa de sua investida
no México não informada e não autorizada. Politicamente, as coisas também não
estão boas. O MI-6 e, consequentemente, a seção 00, estão sob ameaça após um
rearranjo do serviço secreto britânico sob a coordenação de C (Andrew Scott, da
série Sherlock). A ideia de C é acabar com MI-6 e com o programa 00.
A falta de aproveitamento em determinadas cenas e
personagens faz o quarto filme de 007 pecar onde não deveria. Um deles está no confronto
eletrizante, que faz com que Bond conheça Madeleine Swann (Léa Seydoux), filha
de seu antigo inimigo, o Sr White (Jesper Christiansen). Ela é quem vai
ajudá-lo a chegar até a sede da organização Spectre. A atriz francesa é a Bond
Girl da vez, uma daquelas que faz jus ao título com beleza, ar de mistério,
tensão dramática e uma atuação sem clichês. Mas ainda não foi desta vez ainda
que teremos a tão esperada Bond Girl madura em ação. É uma pena, ela se
encaixou perfeitamente no perfil de Bond Girl madura, capaz de lidar com
situações de perigo e armas de fogo, mas o roteiro não lhe dá oportunidade de
demonstrar seu potencial.
O grande antagonista da Spectre, Oberhauser, revela-se um
tiro nuclear no roteiro quando paramos para pensar no produto do filme como um
todo e em seu final. O contexto não explora a reação de Bond, a revelação
torna-se inexistente sem força, algo que teria gerado um bom diálogo. Nos
alertando que o triunfo da própria Spectre também não satisfaz. Apenas uma cena
demonstra a maldade cirúrgica do vilão. As qualidades do roteiro advêm, na
maior parte, da nostalgia dos filmes da era Connery e Moore.
O retorno a velhos moldes dos antigos filmes de James Bond
trouxe algo que há muito não se via nos modernos longas do agente. Um capanga
fora do padrão. E para isso a Spectre conta com o talento e tamanho de Davi
Bautista encarnado no gigante Hinx, um vilão que diverte muito em meio a muita
pancadaria desenfreada. Só lhe restou um fim digno, graças ao roteiro mal
desenvolvido.
Para que fique claro que a edição de Lee Smith
(Interestelar) neste longa fez com o que a história fosse desenvolvida de forma
correta. Não há problemas neste aspecto do filme. E a trilha sonora realizada
por Thomas Newman (O Exotico Hotel Marigold 2) reforça este tom mais aventuroso
do longa.
O que mata 007 Contra Spectre como um veneno, está na
fragilidade no roteiro, que lentamente demonstrou maus tratos em suas
finalizações e diálogos. Mas é importante apontar que o diretor Sam Mendes faz
uma análise interessante sobre os filmes anteriores em meio ao diálogo entre
Oberhauser e Bond. Tirando qualquer dúvida remanescente de que esses longas
tratam sobre morte, vida, o fracasso, o sucesso, o passado e o futuro.
Nota:
6.5/10
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