“Sei
que vai magoá-lo, mas por favor…orgulhe-se um pouco de mim” – Oswald Clara
Despedidas são pratos cheios de emoção, agústia, saudade,
ira e temor; um verdadeiro mix de sentimentos. Mas em Doctor Who essas mesmas
despedidas podem ser acaradas como atos de coragem, não necessariamente de
sacrifício, mas como um ato de respeito ao desejo de um personagem sobre aquilo
que acredita como correto.
Clara Oswald certamente deixou sua marca como companion ao
lado do 12º doutor, que graças a esta deixou um legado importante na memória do
senhor de tempo habitante de Gallifrey. Em Face The Raven temos uma discussão
sobre a ordem e o direito de se caminhar pelas ruas. Em outras palavras, o
direito de viver custa caro se você desobedece às normas. A roteirista de
primeira viagem, Sarah Dollard possui uma forma simplista ao vender a ideia
imediatista de que a morte chega para todos. E bate o martelo afirmando que “no
fim todos enfrentam a morte sozinhos”.
O capítulo foi montado para deixar rastros do seu início ao
fim, e que seus personagens retornarão eventualmente. Ashildr certamente despertou
o monstro do doutor ao praticar sua política ilícita. O que deixa a possibilidade
enorme que ela retornará num futuro da série. No fim, permanece o
questionamento de quem são “Eles”, as pessoas/criaturas que fizeram um acordo
com Ashildr e solicitaram o teletransporte do Doutor a um local misterioso.
Temos aqui um típico caso de reaproveitamento de um
personagem já salvo recentemente pelo Doutor que vemos surgir com problemas. A
roteirista Sarah Dollard de fato foi meticulosa ao levantar determinadas ações
tanto do Doutor quanto de Clara, nos dando lances de como eles eram nos meados
da 8º temporada, abrindo inúmeras portas a um
Universo Expandido. Com uma proposta sem muitas explicações detalhadas, temos
Rigsy em perigo por ter cometido um crime nas últimas 24 horas, sem mesmo saber
ter cometido tal ação. Rapidamente o episódio se constrói numa corrida contra o
tempo à procura pela rua misteriosa que fica no Centro de Londres.
A fotografia foi
importantíssima aqui, elaborando uma atmosfera aventuresca em seu primeiro
momento nas cenas durante do dia, à uma paleta entre azul e o amarelo para
passarmos a noite, com o natural escurecimento proposital aumento de contraste
na imagem, em uma espécie de hiper-realidade onde a tragédia virá a ocorrer.
Em um segundo plano, o uso do
corvo é um interessante trabalho de metalinguagem que o roteiro propõe com as
origens nórdicas de Ashirld, que não à toa, está ligada ao corvo pelas Sombras
de Quantum. Vale ressaltar que na mitologia nórdica, os corvos eram associados
ao deus supremo, Odin. O capítulo é entregue de bandeja para os telespectadores
para que fique evidente o simbolismo do momento.
A todo momento os diálogos
sabiamente brincam com vida e morte, paz e guerra. ‘Homem bom’ para ‘homem mau’,
persona que remete relances do que um dia já foi o Doutor da Guerra, antes
esquecido pelo próprio senhor do tempo. O ritmo na direção de Justin Molotnikov
(mesmo que dirigiu o controverso Sleep No More) é essencial para facilitar
nosso entendimento. Ele vai de meio hiberbólico a um final urgente pela
contagem regressiva da tatuagem que sentencia a morte, mas que nem nós nem o
Doutor queremos que chegue.
O fato é que desde do primeiro
diálogo do capitulo dos aventureiros sobre sua mais recente conquista.
Simbolicamente um jardim, que lembra proteção e alegria ou de contemplação, introspecção
e preparo para a morte. A passagem desse cenário a uma rua-armadilha demonstra
a mudança de estágio de uma vida para outra (segundo o pensamento Medieval, da
Cidade de baixo para a Cidade de cima era praticamente uma sentença de morte).
O Corvo, símbolo dos maus presságios e um dos motivos primordiais da “Grande
Obra” da Alquimia (sendo isso de valor para uma temporada onde a transformação
de um Híbrido é esperada) torna tudo ainda mais instigante e audacioso. A
Sombra Quântica obtém ares mitológicos e sci-fi a partir desse uso inteligente
do símbolo com os elementos básicos da série.
Então nos despedimos da Garota
Impossível, que antes viera a ser apresentada em Asylum of Daleks, que nunca
deixou de lutar pela cura interior do nosso adorado Doutor. Aqui tivemos a
vitória pela simplicidade do contexto, em um último Adeus a Jenna Coleman.
E agora é respirar fundo para
Heaven Sent que trará um Time Lord cheio de ira e sozinho. E bem sabemos as
consequências de quando sua persona permanece sem uma companion ao seu lado. A
tensão toma conta nesses últimos dois episódios da 9º temporada que trará um
desfecho eletrizante e o possível retorno de Gallifrey. Será?