O seriado de suspense dirigido e produzido pelo Indiano M.
Night Shyamalan (o diretor de “O Sexto Sentido” e “Corpo Fechado”). A atração,
que é baseada no livro “Pines”, de Blake Crouch, acompanha a história de Ethan
Burke (Matt Dillon), um agente do Serviço Secreto que viaja para Wayward Pines,
Idaho, em busca de dois agentes desaparecidos e descobre um complexo mistério
envolvendo a região.
Após anos sendo reconhecido pelo seu suspense peculiar e ‘finais
surpresa’ Shyamalan parece ter encontrado na TV um refúgio para seu lar de
ideias criativas. Onde grandes nomes do cinema, sejam atores ou diretores, podem
encontrar executivos muito ansiosos para tê-los em seus canais sob a promessa
de liberdade e privilégio. Contudo, ele foi parar na FOX, onde o projeto
Wayward Pines criou vida, com a premissa de uma minissérie de 10 episódios.
Tendo em vista os últimos trabalhos do indiano, mal
recebidos pelo público e pela crítica, a ideia inicial da série não chamou
muita atenção, a princípio. Entretanto, com o andar da carruagem, eis que somos
surpreendidos, tanto pelas reviravoltas em si quanto pelo dinamismo de vários
episódios e pela inventividade em termos de roteiro, que aborda uma ampla
quantidade de tópicos com inteligência e filosofia.
O agente Ethan Burke (Matt Dilon), que investigava o
desaparecimento de dois colegas, sofre um acidente de carro, e acaba por
despertar no hospital da pequena Wayward Pines. Uma cidadezinha isolada que tem
moradores aparentemente simpáticos, mas que esconde algum tipo de segredo.
Pensamos logo em Twin Peaks, sobretudo porque tal qual na obra de David Lynch,
a cidade é cercada daquele tipo de morador sorridente e de olhar perdido,
superficialmente natural, mas cheio de uma estranheza meio assustadora. Paralelamente
iremos acompanhar a investigação da esposa de Ethan e seu filho, acerca do
desaparecimento do homem. Enquanto que em Wayward Pines presenciamos um
thriller a beira do surrealismo, tanto na paranoia que estimula Ethan e em nós,
quanto por seu ritmo acelerado.
Nos quatro primeiros capítulos o trabalho de suspense vem
sendo construído de forma satisfatória e beneficente ao que a série propõe. O
que passa a contar à partir do episódio cinco são as atuações. O bom trabalho
do elenco passou a ser primordial. Toda a desconstrução da ideia inicial do
seriado é levada ao extremo desse momento em diante. O que antes não fazia
sentido sobre os mistérios do que há por trás da cerca da cidade, abre nossos
olhos para uma discussão de convívio social, reações humanas perante ao incompreensível
e a eficácia de um regime autoritário ou da democracia. Por isso o episódio
cinco é um verdadeiro divisor de águas, pois o que se entende como ‘verdade’ é
o que pode definir o papel das gerações em um futuro incerto da humanidade.
Um adendo aqui sobre a questão das gerações: a série
enfatiza, conscientemente ou não, a tendência da menor resistência do jovem à
manipulação, embora isso seja um tanto amenizado no desfecho, o que pode
irritar representantes dessa faixa etária. Mas pensando no programa também como
uma ferramenta de alerta ao público para o qual é destinado e a perspicácia com
que essa realidade é retratada, defende-se aqui relevar esse aspecto.
No mais os destaques de Wayward Pines permanecem nas atuações,
fotografia e seu ritmo dinâmico, que mesmo após a quebra do mesmo, soube
manejar sob o aspecto do elenco a continuidade para um final irônico. Apesar
dos maiores problemas em seriados do gênero seja a falta de respostas, vulgo
Lost. Um final acomodado na familiar ação desenfreada, e ter sobrado espaço
para contar com esse efeito a produção disse para que veio. Ou seja, apesar do
seu desfecho ser discutível, e ao mesmo tempo genérico em relação a tramas
desse tipo o valor como resultado final deste seriado foi altamente instigante
e eficiente para quem gosta de um bom suspense, filosofia e uma redonda
resolução de seus mistérios.
Nota: 8.7
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