O que um filme da Marvel de verão pode trazer, além de
humor? Bem fico feliz em dizer que trouxe mais do que apenas boas risadas no
cinema. O que parece por estas últimas produções é que a Marvel tem acertado
mais quando aposta em um projeto inusitado, estranho ou desconhecido. Homem de
Ferro 3, Vingadores 2 e Thor 2 eram sucesso garantido, justamente por isso soam
como pouco esforço em suas confecções. Já Guardiões da Galáxia precisou
trabalhar para mostrar que merecia lugar, na primeira fila, ao sol. É
justamente onde se encaixa este Homem-Formiga, um projeto arriscado que a
Marvel precisava tirar do papel se quisesse construir de forma correta seu
universo cinematográfico costurado.
O Homem-Formiga é um personagem importante na mitologia da
casa e para a estruturação dos Vingadores. Ao mesmo tempo, é um personagem
difícil de ser adereçado em outra mídia além dos quadrinhos. Simplesmente as
características do personagem poderiam facilmente recair no ridículo ou longe
do padrão cool com que o público foi acostumado nos filmes da empresa. Um
sujeito cujo poder é diminuir até o tamanho de um alfinete e se comunicar com
formigas não é exatamente interessante como um Batman, Homem de Ferro ou
Superman. Bem, não era.
O devido reconhecimento precisa ser dado a um roteiro que
consiga fazer de uma história mais difícil, e que facilmente poderia ser alvo
de zombaria, algo identificável, curioso e divertido. Com empenho, é justamente
assim que a trama criada por Edgar Wright e Joe Cornish, e desenvolvida por
eles em parceria com Paul Rudd e Adam McKay, é exibida nas telas. Com um tom
bem propício de histórias em quadrinhos, Homem-Formiga é uma investida honesta
e com bastante coração. Utilizando de bastante humor, esta é uma aventura
digna, mesmo que tudo ocorra em menor escala. Justamente por isso, é mais
humana e de fácil acesso.
A começar pelo passado do universo heroico da Marvel,
situado em 1989, o roteiro de Homem-Formiga mostra Hank Pym ainda novo, numa
roupagem em CGI que resgata a imagem rejuvenescida de Michael Douglas,
transportando-o de certa forma a tempos de carreira mais tranquilos,
relembrando uma época em que não era duramente mal visto pela crítica de cinema
em geral. No recinto estão Howard Stark (John Slattery) a antiga Agente Carter
(Hayley Atwell) e outros personagens, que também remetem aos primórdios do
universo cinemático da Casa das Ideias, em uma sociedade quase distópica, no
auge da paranoia da Guerra Fria.
O toque de Edgar Wright é evidente no roteiro de
Homem-Formiga. Seu humor característico é nítido, conforme o longa faz uso de
alguns flashbacks para construir uma de suas maiores gags. Trata-se de um filme
que sabe brinca consigo mesmo; os poderes do Formiga são explorados sob
diferentes vias criativas e, por não se levar tão a sério, desconstrói todo o
bloqueio das pessoas em relação ao herói. Temos aqui uma dinâmica inédita aos
longas da Marvel, enquanto os outros heróis nasceram como tal ou foram
lentamente se descobrindo, Scott Lang é ensinado a ser o Homem-Formiga, afinal,
antes dele já havia existido um, a versão original, portanto, um importante
conceito ainda não utilizado no Universo Cinematográfico da Marvel: A possibilidade
de diferentes pessoas preencherem o papel de um único super-herói.
A relação criada entre Hank Pym, sua filha Hope Van Dyne
(Evangeline Lily) e Scott é um dos pontos altos dos três personagens para seu
universo. Infelizmente, ao mesmo tempo, temos o maior deslize da obra, uma má execução
de todo conflito entre pai e filha que acaba se resolvendo de maneira rápida
demais, ainda que traga uma interessante surpresa para os fãs.
O filme respira a destoante conspiração relacionado a
Hydra, visto em Capitão América: Soldado Invernal e na primeira temporada de
Agents of Shield, além de reverenciar visual e espiritualmente, a viagem mental
de A Origem (Inseption), usando pedaços inteiros do mote que Christopher Nolan
pensou para seu filme autoral. O interessante é como, em nenhum ponto, nos
sentimos perdidos dentro do que ocorre em tela.
O fato é que Peyton Reed soube conduzir muito bem o longa,
que mostrou-se ser uma das obras de maior ‘pé no chão’ da Marvel. Focado no
lado humano, trazendo-nos mais perto dos personagens centrais. Um filme que
acaba rápido demais, deixando gostinho de quero mais. O menos herói da Marvel é
um verdadeiro gigante, pois é como dizem ‘tamanho não é documento’.
Nota: 8.6
0 comentários:
Postar um comentário