sexta-feira, 21 de agosto de 2015

True Detective Segunda Temporada - Crítica



Colin Farrel, Rachel McAdams, Taylor Kitsch e Vince Vaughn as novas sombras que vieram para se tornar os novos nomes na segunda temporada de True Detective. Comecemos pelo menos usual, a música de abertura, que o Showrunner Nic Pizzolatto escolheu para essa temporada. Nevermind, de Leonard Cohen funciona como uma espécie de sucessora espiritual da abertura anterior. Far From Any Road, de The Handsome Family, quando sincronizada a uma abertura de silhuetas emoldurando imagens da temporada de maneira semelhante, mas não diferente ao que vimos antes. (Admito que apenas faltando três capítulos para o término desta temporada que tive vontade de ouvir a abertura em looping).
A segunda temporada de True Detective possuía uma ingrata missão desde o momento em que foi confirmada: alcançar, ou até mesmo superar, a excelente trama de seu ano de estreia. O grande frisson causado sobre a obra de Nic Pizzolatto atraiu espectadores e gerou enorme expectativa para os oito episódios que contariam a empreitada de três policiais e um mafioso em busca de respostas para um estranho assassinato na cidade de Vinci, tão corrupta quanto fictícia. Arrastada em sua primeira metade, a história ganhou dinâmica nos quatro episódios finais e teve um desfecho satisfatório. Mas não foi o suficiente.
O Showrunner, depois de pegar-nos de surpresa com uma primeira temporada de dar gosto, seu primeiro trabalho original para TV (antes ele só escrevera dois episódios de The Killing), acaba não chegando nem perto de fazer algo que se quer resvale seu trabalho anterior. Quando digo isso me refiro a conteúdo e não a qualidade, pois esta permanece impecável. Sim, trata-se de uma história de polícia, mas esperar um semblante com a temporada anterior é pedir para se frustrar. Pizzolatto navega sob águas desconhecidas, começa do zero e se arrisca, exatamente como todo bom Showrunner que se preze, ao sair da zona de conforto de seu próprio sucesso a mexer fortemente no status quo no que diz respeito as expectativas de seus espectadores.
Com inúmeras subtramas e diálogos muitas vezes desnecessários, foi difícil para True Detective embalar. Além disso, a série demorou muito para começar a realmente revirar os dramas pessoais dos quatro personagens. Se priorizasse a construção psicológica de seus protagonistas, essa temporada teria sido menos cansativa até seu ponto de virada, no impressionante e belamente coreografado tiroteio em “Down Will Come”. Sem muitas cenas realmente marcantes, foi impossível para o quarteto de atores repetir a brilhante atuação de Matthew McConaughey na primeira temporada. Mesmo assim, a interpretação da maioria merece elogios. Acostumada com papéis delicados, Rachel McAdams surpreendeu como a durona e conturbada Ani Bezzerides. Outro que fugiu da zona de conforto e foi bem é Vince Vaughn, que nem parecia comediante quando sutilmente expressava medo e estresse na feição do mafioso Frank Semyon. Na pele do traumatizado Ray Velcoro, Colin Farrell foi o grande destaque da temporada. Já Taylor Kitsch foi quem destoou no quarteto, talvez prejudicado pela inexpressividade do patrulheiro Paul Woodrugh.
Mas há um quinto “personagem” importantíssimo no seriado, aquele que permeia cada segundo da projeção: a cidade fictícia (gerenciada por Caspere), nas imediações de Los Angeles, uma espécie de vala comum para onde tudo que é ruim e que é rejeitado pelas demais cidades ao redor vai. Imigração ilegal, jogos de azar, dejetos tóxicos, prostituição. A cidade funciona como uma poderosa crítica sócio-política a várias cidades do mundo e particularmente ao emaranhado de sub-cidades que entremeiam o centro sul do estado da Califórnia, nos EUA. É absolutamente fascinante observar Pizzolatto colocar essa questão tão relevante dentro de uma estrutura narrativa dramática disfarçada de trama policial. Isso por si só já mereceria a atenção dos espectadores mais cínicos. Em outras palavras Vinci como seus pares na “vida real” existe para dar vazão ao progresso disfarçado das metrópoles a caminho de um futuro às custas de muita exploração e muita morte direta e/ou indiretamente.

Vale frisar, que o que impede a temporada de alçar vôo em sua primeira metade é o enorme foco no desenvolvimento de seus personagens, com monólogos filosóficos longos, e debates que correm atrás dos próprios rabos e não chegam a lugar nenhum. Todos com seus sérios traumas antigos, em sua maioria relacionados ao sexo. Velcoro assassinou o estuprador da sua mulher e potencial pai de seu filho e, a partir desse evento em seu passado longínquo, viu sua vida desandar. Bezzerides é uma mulher forte que se esconde atrás do sexo e de uma memória reprimida de infância. Wooddrugh luta contra quem ele é com todas as suas forças, jogando-se em um relacionamento que não quer de verdade e sofrendo demais com isso ao ponto de ser um suicida em potencial. E, finalmente, temos o gângster Frank Semyon, que deseja mais do que tudo ter um filho com sua mulher (Jordan, vivida pela bela e ruiva Kelly Reilly), mas não consegue.
Por mais que algumas das sub-tramas sejam interessantes e tragam consigo um tom fatalista, que porventura venha a unir tais personagens, ao mesmo tempo foi uma das principais críticas dos fãs a essa temporada.  A sensação que passa foi que Pizzolatto embaralhou as cartas um pouco e reestabeleceu a narrativa principal, da metade para o final dos seus oito episódios. Inserindo novas situações e arriscando novamente ao exigir sobremaneira da memória do espectador, com nomes e situações obscuros citados a todo momento. Quando digo obscuros, me refiro ao fato de já estarem lá, pois os mesmos foram mencionados antes no roteiro, mas quando reemergem, é tanto nome que parece novo, tantos detalhes que são trazidos à tona que é quase necessário começar a rabiscar um gráfico para não enlouquecer (não vou mentir que pensei em fazer isso).
A atmosfera desolada e dramática que permeou toda a temporada chegou ao ápice em um final realista e sangrento. Como adiantou o episódio, “Black Maps and Motel Rooms”, nenhuma boa ação foi recompensada e ninguém teve o benefício da sorte. Pois para o Showrunner ao invés de se preocupar em explicar quem é o assassino e sua motivação, para Pizzolatto o diferencial e mais importante foi relatar como tudo aconteceu. E apesar, das minhas comparações ao longo da crítica com a primeira temporada terem sido inevitáveis, a segunda temporada de True Detective merece ser valorizada, pois em uma época onde plot twists destroem boas histórias, vimos por meio desta não se abrir mão da surpresa mesmo em seu desfecho, dando dicas sobre seu final durante toda a trama. E, este de fato é um caso atípico de volta por cima, no formato de antologia nas séries de tv.


Nota: 7.8
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