
A estória do livro começa as seis da tarde em mais um dia na
Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, na qual os moradores são impedidos de
adentrar e sair da comunidade devido a policiais armados. Poderia ser apenas
mais uma operação de costume para os moradores daquela comunidade, mas algo
assustador viria: uma invasão zumbi na favela. Ao se verem cercados, um grupo
de traficantes e moradores decidem sair do local, mas devem enfrentar pela
frente a ira dos zumbis e dos policiais, dispostos a matar qualquer um que
aparecesse pela frente.
O livro é escrito pelo autor Julio Pecly, que infelizmente
faleceu no início desse ano, que foi morador da Cidade de Deus por boa parte de
sua vida. Esse detalhe ajuda muito para a criação em torno da trama e de todas
as críticas sociais que ele implementa ali. Falando nessas, é interessante
realça-las. Sob o primeiro lugar, como as pessoas poderiam se tornar zumbis:
através de um determinado tipo de cocaína malfeita. Isso já cria uma grande
realidade de como os usuários de drogas, com a utilização em excesso, poderiam
ficar. Em segundo lugar, o medo dos moradores da comunidade perante a polícia.
Esse fato é extremamente interessante, principalmente relacionado a repressão
que acontece realmente da polícia militar em várias favelas e a demonstração da
insegurança dos moradores, com os traficantes e a polícia é extremamente
bem-feita. Em terceiro, sobre a exclusão social e moral que as favelas passam na
sociedade. É extremamente interessante as falas da repórter fora do ar preocupada se os
zumbis iriam chegar na zona sul (área rica da cidade) e a preocupação do
prefeito de chegarem nessa parte rica, chegando a ordenar para os policiais que
fechavam a favela de matarem qualquer um que vissem pela frente. Todas essas
críticas empregadas já criam algo mais interessante e que melhora na leitura do
livro.
Continuando sobre a
leitura, Julio Pecly escreve extremamente bem e de uma maneira bem crua, ou
seja, bem realista. Assim, é possível se conectar por dentro da leitura muito
rapidamente e de maneira bem incisiva, mas talvez esse fato leve ao grande
problema do livro: seu ritmo. A obra é bem pequena, cerca de 160 páginas, mas,
depois do ápice inicial, ela fica num morno até seu final, com alguns momentos
de grande pico. Dessa maneira, a leitura fica bem cansativa, mas é até de certa
forma recompensante, pelo seu final espetacular. Outro detalhe negativo é a
grande quantidade de personagens e pontos de vista desses. Fica um pouco
embolado e enjoativo, além de não levar apatia por nenhum desses. As mortes acabam, pelo fraco desenvolvimento, sendo um pouco fracas. O grande ponto, nesse sentido, é um possível mal desenvolvimento da crítica colocada, que, se fosse mais bem trabalhada, seria melhor.
A publicação foi realizada pela Editora Leya no seu selo de
fantasia Casa da Palavra. A edição é bem caprichada e possui uma bela capa
escolhida, além do belo acabamento dado no Z do título. O único fato negativo
foram as linguetas que, muito grandes, amassam com muita facilidade.
Cidade de Deus Z retoma um dos pontos mais interessantes que
veio de início com obras da temática zumbi: a crítica social. Só por esse
ponto, o livro sobe em muitos aspectos, mas a grande questão é que desliza de
uma maneira um pouco mais forte em outras, mesmo assim, é uma grande leitura e
deve ser apreciada.
Nota: 7,3/10
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